sexta-feira, 1 de abril de 2022

A última olhada para trás

 Eu ainda amo 

Ainda amo e amo ainda

Há muito tempo

Há muitos anos

Há muitas vidas 


Eu sinto isso em mim

No estômago, no peito, nos olhos

No meu sonhar 


Eu amo e nao sei quanto do amor vivi

Por que o medo estava lá presente

O medo presidia muitas sessões

O medo era o motorista, dirigindo apreensivo com o coração apertado na mão


Ás vezes quem tomava posse era a pressa, correndo e correndo e correndo, e eu não podia respirar

Eu não podia suspirar, esperar, amparar com carinho teu peito e o meu


E a culpa limpava o chão e o teto, manchando tudo com água turva 


Eu amo e isso me enche os olhos d'água porque eu queria caminhar e até ali nem sabia que podia 

Andar devagarinho, segurar tua mão aos pouquinhos 


É que parecia que eu não podia errar nenhum olhar, 

nenhuma palavra, 

nem entender o que precisava dizer no tempo possivel para entender 


É que parecia que não podia parar, nem pra aprender a andar, nem pra sentir doer


É que da primeira vez não se sabia nada

E da segunda existia a ilusão de saber, mesmo sem muito saber

 

Só se sabia que era amor 

Amor tão forte, concreto 

Amor tão lindo

Que junto do medo, da pressa e da culpa pesava

Como sacolas de toneladas de nada

Empilhadas do lado da montanha de amor, como lixo na frente da casa, que ninguém conseguia ver e então recolher, reciclar 


Tanto tempo longe

E tão pouco se aprendeu com o tempo


Tanto tempo longe e tão pouco tempo para plantar as sementes com jeitinho, tocando a terra, sentindo a mão, a pá, o jeito certo de cavar


É que parecia que estavamos ali para a colheita, mesmo sem ter esperado o germinar, o florescer 


Muito Amor ali sem saber, que quase nada se sabia, porque tudo se supunha

E se supunha grandes golpes no amor 

E por supor, de fato o estrangulava


Porque parecia tanta coisa

Mas só parecia...


E nem se sabe o que se era por trás 

E nem se sabe o que seria

Se o medo perdesse sua licença

Se a pressa fosse desconvidada 

Se a culpa fosse inocentada


Nem se sabe o que seria do amor

Se o tempo andasse a seu favor

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

A concha

 aprendi a transformar todos os meus medos em raivas

minhas inseguranças se metaforsearam em algo violento

eu observava os grandes lutadores com punhos cortados e cabeça sangrando como se me olhasse no espelho

expressei meus sentimentos em gritos e acusações

quase como se não tivesse a menor capacidade de controlar minhas palavras

destilei meu veneno indiferente como forma de colocar para fora minhas frustrações e minhas invejas 

eu me via como um terrível monstro porque me comportava como um


e no fim, era apenas uma criança com medo

de ser maltratado pelo mundo

de ser rejeitado por quem eu queria que me amasse

demorei a salvar minha criança

demorei a perdoar a mãe que não o fez (e não detinha meios para...)

demorei a tornar-me meu pai, minha própria mãe

a segurar minha mão

demorei a voltar a ser gente

agora grande

agora um tanto mais forte


como um molusco preso dentro da sua própria concha, sem possibilidades de libertação

livrei-me

mas de tempos em tempos ainda me vejo ali, metade dentro, metade fora


nem tudo é como pensamos ou queremos 

nem tudo é

nem tudo deixa de ser

terça-feira, 13 de outubro de 2020

flores

 fujo das possibilidades de amor

fujo da oportunidade de amar

quase como se existisse um pavor de que algo pudesse me fazer voltar a sentir profundamente como antes

imagino de quantas balas mais me esquivarei

ileso como quem quase foi pego no trilho do trem

com o suor pingando

o coração quase experimentando uma taquicardia

...

munições surpresas da vida

eu, matrix, tentando fugir

como se houvesse um outro lugar que esse corpo material pudesse testar


assim me vou ao mar

sem amar

e com ar

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

outra vez sobre amor

marcado pelo sonho de amar
me perco na confusão de ser iludido pelos livros, filmes e músicas
na confusão das minhas próprias poesias internas
do meu romantismo adormecido

é que o amor não é mais o que era antes
quando eu não sabia me amar
é que o amor não é mais o dono da razão
o amor não é mais sem limites e sem medidas

é que agora eu nem sei se sei realmente o que é

e "se perguntar o que o amor pra mim
não sei entender, não explicar"
é que fico me questionando se um dia volto a amar
a apaixonar
a voar...

domingo, 5 de janeiro de 2020

desértico

A solidão me invade, me consume
E eu tento entender se realmente me importo
Depois de tantas pancadas
Depois de estilhaçar tantas paredes de vidro
Me sinto forte, mas não amargo

É que alguns dias estamos no topo do mundo
E depois no bueiro mais profundo

Nem sempre a vida é sobre emergir ou renascer
As vezes é respeitar o fluxo
Segui tranquilamente em meio ao nada, ao vazio, ao deserto

domingo, 8 de dezembro de 2019

flexibilidade negativa

tem muita coisa que a gente tem certeza
e finge não fazer ideia
tem muita coisa que a gente vê
e finge não enxergar
tem muita palavra que a gente escuta
e parece que nasceu surdo

é o hábito tóxico de mentir pra si mesmo

como se aquilo que a gente tenta colocar debaixo do tapete
ou esconde no armário
tranca no porão
não encontrasse o momento certo de nos assombrar
ou de cobrar as dívidas


sexta-feira, 29 de novembro de 2019

outro alguém

me tornei outro alguém
totalmente diferente daquele que fui por trinta anos
porém, também permaneço o mesmo

outro alguém que talvez saiba viver
outro alguém imperfeito e que celebra suas diferenças
que ergue a cabeça e segue em frente
que segura na própria mão
que permite que a intensidade do sol circule por
todas as suas veias
que exala a calmaria da lua
e não se assusta com a turbulência do mar que as
vezes surge por dentro

me orgulho de mim
me admiro
nutro um amor cada dia mais cheio de compaixão por
mim mesmo
luto e não me importa o resultado,
o que interessa é que vivi

A última olhada para trás

 Eu ainda amo  Ainda amo e amo ainda Há muito tempo Há muitos anos Há muitas vidas  Eu sinto isso em mim No estômago, no peito, nos olhos No...